domingo, 16 de outubro de 2011


 As vivências das Mandalas
 Era uma vez no Oashram

       No ano de 2009, em um lugar chamado Oashram, vivi uma experiência maravilhosa e tive a oportunidade de conhecer pessoas oriundas dos mais variados ramos dos saberes, o projeto expressava a convivência da pura diversidade, o objetivo era desenvolver atividades voltadas para o crescimento humano.
           Várias atividades ocorriam ao mesmo tempo: grupo de estudos de Tarot e Astrologia, oficina de percussão, estudos da Cabala,  Reiki, oficina de teatro, oficina de dança, constelação familiar,  oficina de arteterapia, palestra sobre os mais variados temas, discussões de livros e filmes, canto, danças circulares e para principiantes, Satsanga Krya Yoga, sustentabilidade e permacultura, feira de artesanato, grupo de medicina, psicologia,  enfim, uma variedade de pessoas e conhecimentos que realmente faziam a diferença.

             Minha primeira participação no projeto foi em uma palestra sobre a mandala do Planisfério Astrológico de Rama, o Arqueômetro. Para expor o assunto,  visando uma apresentação didática, fiz uma representação do planisfério no meio do salão, nasceu neste dia a intuição para elaboração do Rito das Vivências das Mandalas. 
            O local destinado para a vivência tinha um piso maravilhoso, por isso decidi elaborar uma mandala gigante com um raio aproximado de três metros, geometricamente traçada, demarcada com fita dupla face sobreposta com fitas de seda nas cores do Arqueômetro.
        A vivência iniciava com uma prédica sobre o assunto, a ideia era construir uma imensa mandala com todos os participantes, assim como fazem os monges do budismo tibetano com suas mandalas de areias colorida. Como não tínhamos habilidades tão apuradas como a de um monge disponibilizei materiais variados e práticos, tais como: velas, pedras e areias coloridas, cristais, metais, moedas, flores, lamparinas, grãos, enfim, uma variedade de elementos que possibilitassem a distribuição das formas dentro do plano geométrico.

          Na realidade, estava reunindo teorias como a Mandala do Arqueômetro, temas religiosos, filosóficos, da psicologia e do cotidiano. A ideia era constatar se os hindus, os budistas tibetanos e os junguianos estavam corretos. Como era esperado  estavam, pois todos os participantes manifestavam naturalmente habilidades que impressionavam pela beleza, harmonia geométrica e integração com o todo.
      No final do Ritual das Mandalas realizávamos alguns mantras e desmanchávamos a mandala como fazem os monges do budismo tibetano que preconizam o princípio da criação, preservação e destruição, oferecendo as flores e os grãos nos jardins do Oashram.
                Para melhor elucidar o objetivo do trabalho procurava enfatizar a importância da representação geométrica da mandala, reforçava o que era a definição espacial harmônica e suas múltiplas subdivisões. Explicava o  significado da palavra mandala, sua procedência na língua sânscrita antiga e que era composta da contração de duas palavras manda= essência e la= conteúdo, compreendido como a essência da esfera ou círculo da essência, ou simplesmente, círculo.
    Nas vivências explicava que as mandalas eram utilizadas em várias tradições religiosas  e detalhava as diferentes visões, principalmente no extremo oriente, como expressão da manifestação do sagrado, o divino a organizar a forma (o Yantra), sempre irradiando de dentro para fora, afirmando que a mandala significava o movimento interno. Elucidava também que nos últimos séculos vinha sendo estudada e difundida no ocidente,  onde vários pesquisadores já haviam elaborado verdadeiros tratados a partir da observação dos conhecimentos, principalmente dos hindus e dos budistas tibetanos.
                Como psicólogo, explicitava  quem era Jung e que era um grande precursor deste conhecimento no ocidente, e que rapidamente entendeu a finalidade do círculo mágico. Se tornou tão importante que passou a ser associado ao seu conceito de si-mesmo, pois representava a totalidade e produção da busca do equilíbrio da personalidade, sendo a representação harmônica da multiplicidade do uno. Enfatizava que na sua visão é a busca do equilíbrio do mundo interior e um objeto poderoso na meditação em profundidade, onde encontram-se as representações do que chamou de Self.
                Prosseguia explicando que na sabedoria dos antigos hinduístas a mandala faz parte da relação do altar com o templo, é símbolo da representação do divino, utilizada na prática religiosa visando a passagem do estado material para o espiritual, onde a finalidade é alcançar o centro onde encontra-se a representatividade da perfeição,  utilizando a meditação como instrumento desta busca através de ritos com cânticos (mantra/som) e idealizações de forças na mente (tantra/luz). A tradição budista não difere muito deste contexto, também utilizam o yantra ou a mandala como instrumento de meditação,  entoam mantras e visualizam o estado do Buda, o da iluminação, visando alcançar o Nirvana, os planos de felicidades.  No budismo tibetano, os dos Lamas, a mandala também é o instrumento de ascensão espiritual, produzido através de uma visão divina, cósmica e humana.
                A elaboração e vivência ritualística proporcionam a aquisição de forças que equilibram e regeneram as energias nos planos, mental, astral e físico. Essas energias de modificação tonificam os diversos campos, ativando processos de acessos aos conteúdos do inconsciente, estimulando a mente abstrata, equilibrando as emoções, promovendo um processo que restabelece funções orgânicas básicas. As mandalas funcionam como fonte de cura e auto-cura, possibilitam centrar-se em um eixo, entenda-se como equilibrar-se nos diversos níveis do funcionamento do corpo e da alma.

                Estas práticas exigem um ambiente propício, sagrado e criativo, pois é assim que nascem visões e experiências interiores altamente diversificadas e pessoais, possibilitando um encontro com o si-mesmo.  Jung recorreu muitas vezes às imagens das mandalas para analisar representações simbólicas da psique e constatou que a mente humana relaciona-se com a mandala através da contemplação, um reencontro com alguns sentidos de vida e ordenação, não importando sua tradição religiosa, possibilitando a integridade dos pensamentos e a harmonização na busca do equilíbrio, pois conserva a psique e a reorganiza. Está diretamente relacionada com a “imaginação ativa”, constatando também que ajuda na concentração, tendendo a restringir o processo para o centro, como este é indiferenciado e harmônico o indivíduo tende a se sentir em conformidade com as energias emanadas deste interior.   
                Outros estudiosos da psicologia também observaram que essas práticas tinham um efeito mais profundo em estado de semi vigília, quando a abstração flui com mais intensidade e o inconsciente fica mais permeável, existindo uma tendência natural de ordenar aquele momento da existência, pois a natureza é divina e harmônica, principalmente geométrica como preconizavam os pitagóricos.

                No Brasil, vale o registro do trabalho da Dra. Nise da Silveira,  no Centro Psiquiátrico D. Pedro II no Engenho de Dentro/RJ . Profunda conhecedora das obras junguiana,  tratava pacientes com perturbações mentais graves. Fundou as terapias ocupacionais com ateliês de pintura e modelagem, onde observou muitos pacientes que desenhavam mandalas como forma de promover a auto-cura, como afirmava Jung, pois na elaboração das mandalas os estados contemplativos geram uma tentativa em busca do equilíbrio. Nestes trabalhos ficou claro que a mandala realmente é um arquétipo da ordem, da integração e da plenitude psíquica.
                Não se tem mais dúvidas que são padrões da totalidade, constatado na manifestação da própria natureza, como nos caracóis, nas folhas, nas flores e uma série de outras repetições de padrões geométricos em formas de mandalas.
                Foram realizados no Oashram dez ritos das vivências das mandalas com os mais variados grupos, todos responderam à tendência de se reorganizar, seguiram um padrão das representações da mandala do Arqueômetro, confirmando a proposta contida no trabalho.



Um comentário:

  1. Muito bom! Rever as fotos me deixou com saudade das vivências que tivemos por lá. Fico honrado em ter participado disso.

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