As vivências das Mandalas
Era uma vez no Oashram
No ano de 2009, em um lugar
chamado Oashram, vivi uma experiência maravilhosa e tive a oportunidade de conhecer pessoas oriundas dos mais variados ramos dos saberes, o projeto expressava a convivência da pura
diversidade, o objetivo era desenvolver atividades voltadas para o crescimento humano.
Várias atividades ocorriam ao mesmo tempo: grupo de estudos de Tarot e Astrologia, oficina de percussão,
estudos da Cabala, Reiki, oficina de teatro,
oficina de dança, constelação familiar, oficina
de arteterapia, palestra sobre os mais variados temas, discussões de livros e
filmes, canto, danças circulares e para principiantes, Satsanga Krya Yoga, sustentabilidade
e permacultura, feira de artesanato, grupo de medicina, psicologia, enfim, uma variedade de pessoas e
conhecimentos que realmente faziam a diferença.
Minha primeira participação no projeto foi em uma palestra sobre a mandala do Planisfério Astrológico de Rama, o Arqueômetro. Para expor o assunto, visando uma apresentação didática, fiz uma representação do planisfério no meio do salão, nasceu neste dia a intuição para elaboração do Rito das Vivências das Mandalas.
O local destinado para a vivência tinha um piso maravilhoso, por isso decidi elaborar uma mandala gigante com um raio aproximado
de três metros, geometricamente traçada, demarcada com fita dupla face sobreposta com fitas
de seda nas cores do Arqueômetro.
A vivência iniciava com uma prédica
sobre o assunto, a ideia era construir uma imensa mandala com todos os participantes, assim
como fazem os monges do budismo tibetano com suas mandalas de areias colorida. Como
não tínhamos habilidades tão apuradas como a de um monge disponibilizei
materiais variados e práticos, tais como: velas, pedras e areias coloridas,
cristais, metais, moedas, flores, lamparinas, grãos, enfim, uma variedade de
elementos que possibilitassem a distribuição das formas dentro do plano
geométrico.
Na realidade, estava reunindo
teorias como a Mandala do Arqueômetro, temas religiosos, filosóficos, da
psicologia e do cotidiano. A ideia era constatar se os hindus, os budistas tibetanos
e os junguianos estavam corretos. Como era esperado estavam, pois todos
os participantes manifestavam naturalmente habilidades que impressionavam pela
beleza, harmonia geométrica e integração com o todo.
No final do Ritual das Mandalas realizávamos
alguns mantras e desmanchávamos a mandala como fazem os monges do budismo tibetano
que preconizam o princípio da criação, preservação e destruição, oferecendo as
flores e os grãos nos jardins do Oashram.
Para melhor elucidar o objetivo
do trabalho procurava enfatizar a importância da representação geométrica da
mandala, reforçava o que era a definição espacial harmônica e suas múltiplas
subdivisões. Explicava o significado da palavra mandala, sua procedência na língua sânscrita antiga e que era composta da contração de duas palavras manda=
essência e la= conteúdo, compreendido como a essência da esfera ou círculo da
essência, ou simplesmente, círculo.
Nas vivências explicava que as mandalas eram
utilizadas em várias tradições religiosas e detalhava as diferentes visões,
principalmente no extremo oriente, como expressão da manifestação do sagrado, o
divino a organizar a forma (o Yantra), sempre irradiando de dentro para fora,
afirmando que a mandala significava o movimento interno. Elucidava também que nos
últimos séculos vinha sendo estudada e difundida no ocidente, onde vários pesquisadores já haviam elaborado
verdadeiros tratados a partir da observação dos conhecimentos, principalmente dos
hindus e dos budistas tibetanos.
Como psicólogo, explicitava quem era Jung e que era um grande precursor deste conhecimento no ocidente, e que rapidamente
entendeu a finalidade do círculo mágico. Se tornou tão importante que passou a ser associado ao seu conceito
de si-mesmo, pois representava a totalidade e produção da busca do equilíbrio
da personalidade, sendo a representação harmônica da multiplicidade do uno. Enfatizava que na sua visão é a busca do equilíbrio do mundo interior e
um objeto poderoso na meditação em profundidade, onde encontram-se as
representações do que chamou de Self.
Prosseguia explicando que na
sabedoria dos antigos hinduístas a mandala faz parte da relação do altar com o
templo, é símbolo da representação do divino, utilizada na prática religiosa
visando a passagem do estado material para o espiritual, onde a finalidade é
alcançar o centro onde encontra-se a representatividade da perfeição, utilizando a meditação como instrumento desta
busca através de ritos com cânticos (mantra/som) e idealizações de forças na
mente (tantra/luz). A tradição budista não difere muito deste contexto, também
utilizam o yantra ou a mandala como instrumento de meditação, entoam mantras e visualizam o estado do Buda,
o da iluminação, visando alcançar o Nirvana, os planos de felicidades. No budismo tibetano, os dos Lamas, a mandala também
é o instrumento de ascensão espiritual, produzido através de uma visão divina,
cósmica e humana.
A elaboração e vivência
ritualística proporcionam a aquisição de forças que equilibram e regeneram as
energias nos planos, mental, astral e físico. Essas energias de modificação
tonificam os diversos campos, ativando processos de acessos aos conteúdos do
inconsciente, estimulando a mente abstrata, equilibrando as emoções, promovendo
um processo que restabelece funções orgânicas básicas. As mandalas funcionam
como fonte de cura e auto-cura, possibilitam centrar-se em um eixo, entenda-se
como equilibrar-se nos diversos níveis do funcionamento do corpo e da alma.
Estas práticas exigem um
ambiente propício, sagrado e criativo, pois é assim que nascem visões e experiências
interiores altamente diversificadas e pessoais, possibilitando um encontro com
o si-mesmo. Jung recorreu muitas vezes às
imagens das mandalas para analisar representações simbólicas da psique e
constatou que a mente humana relaciona-se com a mandala através da contemplação,
um reencontro com alguns sentidos de vida e ordenação, não importando sua
tradição religiosa, possibilitando a integridade dos pensamentos e a
harmonização na busca do equilíbrio, pois conserva a psique e a reorganiza. Está
diretamente relacionada com a “imaginação ativa”, constatando também que ajuda
na concentração, tendendo a restringir o processo para o centro, como este é
indiferenciado e harmônico o indivíduo tende a se sentir em conformidade com as
energias emanadas deste interior.
Outros estudiosos da psicologia
também observaram que essas práticas tinham um efeito mais profundo em estado
de semi vigília, quando a abstração flui com mais intensidade e o inconsciente
fica mais permeável, existindo uma tendência natural de ordenar aquele momento
da existência, pois a natureza é divina e harmônica, principalmente geométrica
como preconizavam os pitagóricos.
No Brasil, vale o registro do trabalho
da Dra. Nise da Silveira, no Centro
Psiquiátrico D. Pedro II no Engenho de Dentro/RJ . Profunda conhecedora das obras junguiana, tratava pacientes com
perturbações mentais graves. Fundou as terapias ocupacionais com ateliês de
pintura e modelagem, onde observou muitos pacientes que desenhavam mandalas
como forma de promover a auto-cura, como afirmava Jung, pois na elaboração das
mandalas os estados contemplativos geram uma tentativa em busca do equilíbrio.
Nestes trabalhos ficou claro que a mandala realmente é um arquétipo da ordem, da
integração e da plenitude psíquica.
Não se tem mais dúvidas que são padrões
da totalidade, constatado na manifestação da própria natureza, como nos caracóis,
nas folhas, nas flores e uma série de outras repetições de padrões geométricos
em formas de mandalas.
Muito bom! Rever as fotos me deixou com saudade das vivências que tivemos por lá. Fico honrado em ter participado disso.
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